Um "cadinho" de mim

São Luís, Maranhão, Brazil
Rita Luna Moraes Assistente Social e Bacharel em Direito. Servidora pública federal aposentada.

domingo, 19 de maio de 2013

Meu encontro com um operador da ditadura militar, na homenagem que recebi, pela 1ª Diretoria dos estudantes de SS

A sexta-feira, dia 17 de maio, foi muito marcante. Após participar, na noite anterior, do II Prêmio Gayvota de Direitos Humanos e da celebração dos 11 anos de "A Vida é uma Festa", na Praia Grande, espaço que me representa, e culminando uma semana tensa de trabalho, pude experimentar outras grandes emoções, desta vez na solenidade pelos 60 anos do Curso de Serviço Social da UFMA.

Fui receber a Comenda em nome das companheiras da 1ª Diretoria do DASS-Livre, como compartilhei aqui HOMENAGEM À 1ª DIRETORIA DO DIRETÓRIO ACADÊMICO LIVRE DE SERVIÇO SOCIAL PÓS DITADURA MILITAR. Já seria motivo suficiente de emoção reencontrar várias companheiras e colegas de profissão, mas NADA deve ser suficiente quando se trata de emoção: devemos NUNCA estar preparadas! E assim fui: completamente aberta e serena. Penso que por isto também, tudo tenha, para mim, mais sabores que, nem sempre, consigo dizer. Mas me agrada partilhar, na companhia de uma taça de vinho tinto para celebrar a vida, mesmo sem saber se conseguirei (d)escrever.

Para os que não puderam estar presentes, relembro trechos de minhas palavras ao receber a homenagem: 
"Agradeço e dedico esta homenagem a todos os estudantes que morreram em luta contra todas as ditaduras - a de Vargas e a Militar, em especial. Sempre os estudantes estiveram presentes nas lutas democráticas. Quando da ditadura militar, os Diretórios Estudantis foram fechados e somente com o movimento sindical no ABC, a luta pela Anistia e por uma Constituinte, os estudantes puderam voltar a se reorganizar. Quando constituímos a 1ª Diretoria do DA-Livre de SS/UFMA. Assim que recebi o Convite do CRESS, digitalizei-o e compartilhei em minhas páginas virtuais. Direi a todos o que a companheira Celecina Sales, Presidenta daquela Diretoria, disse-me via Facebook -  Tenho muitas saudades de vocês e daquele tempo. Luta e amizade caminhavam juntas.  Uma das descrições mais lindas que já ouvi do Movimento Estudantil. Não seria o que sou, pessoal e profissionalmente, se não tivesse participado do Movimento Estudantil. Muitas daquelas companheiras seguiram integrando outros movimentos, políticos ou partidários, na organização das (os) Assistentes Sociais ou em suas categorias, como eu mesma na organização do Sindicato dos Trabalhadores na Previdência, o SINTSPREV. Disse à Lília, quando recebi o Convite, que sou tímida (embora não pareça, sei bem disfarçar). Mas, compreendendo que a homenagem não era a mim, individualmente, aceitei-a e não deixaria de vir, como representante do DA. Levarei para mostrar a minha mãe, que, tantas vezes, não entendia porque eu chegava tarde em casa, muito depois do horário das aulas ou que passava fins de semana na casa de colegas. Mostrar-lhe que houve este reconhecimento. Depois vou entregá-la ao Centro Acadêmico, pois a ele pertence! Vivam os estudantes!"
A Comenda, fazendo pose no móvel da sala do Apartamento em que resido.

Ao descer, de volta à plenária, abraçando muitas companheiras pelo caminho, acenou-me do fundo do Auditório um senhor que pediu para que eu sentasse ao seu lado por um instante. Não o conhecia, mas, educada, sentei-me e passei a ouvir uma narrativa que jamais pensei. Ele me disse, emocionado, que as minhas palavras o fizeram recordar de quando ele foi do Exército e que recebera ordens para bater nos estudantes e hoje, acompanhando sua mulher, que faz Serviço Social, estava ali, no momento em que eu dizia algo que tinha a ver com ele. A mulher o interrompeu, para me dizer que enquanto eu falava, ele lhe dizia: veja só, ela está falando algo verdadeiro, eu fiz isto, eu bati nos estudantes, perseguia, vigiava, cumprindo ordens, mas fazia. Eu ouvia, calada. Ele continuou falando, quase numa "catarse", num "desabafo", como um pedido de desculpas, por algo feio e errado, que, hoje, reconhece que fez. Disse-me, por fim, que no dia seguinte faria 63 anos e ele estava ali vivendo aquilo. Eu, com um sincero sorriso, acolhi-o, naturalmente, porque não consegui ver nele alguém a quem execrar. Disse ainda que, de minha parte, não havia rancor. Que estivemos, os estudantes e ele(s) em sentidos opostos, num determinado momento, mas, - interrompeu-me, de novo, para dizer que "cumpria ordens" - eu continuei, dizendo, que, cada um de nós responderia diante da história e de si mesmo, todos os atos que praticamos. Deu-me um abraço, ao qual não me furtei, naturalmente. 

Voltei para sentar-me ao lado das amigas Margarete Cutrim e Rosário Fróes, com quem estava, antes. Ambas me cumprimentaram pela homenagem e pelas palavras ditas. Nada lhes falei deste inusitado encontro. Concentrei-me, de novo, nas homenagens seguintes.

As emoções não findaram por aí. 

Ao ato de recebimento da Comenda pela atual gestão do Centro Acadêmico (CASS), sucessor do Diretório Acadêmico (DA), a estudante Jéssica Ribeiro, reafirmou o que eu dissera, da fala de Celecina: também agora, amizade e luta andam juntas e chama as demais colegas do CASS. Levantei-me e, após aguardar que todas subissem, já perto do palco, perguntei à Jéssica se poderia subir, também. E foi o que fiz. Na subida, Lília, Presidenta do CRESS-MA, disse-me, baixinho, que eu poderia ficar com a Comenda, pois o CASS já teria uma. A foto abaixo e o que eu disse no Facebook não deixam dúvidas de minha decisão:  "hehehehe Somente os estudantes de SS vão guardar 2 Comendas. Salve o CA-Livre de SS - UFMA: gerações de luta, de ontem, de hoje e, esperamos tod@s, de sempre!"


                                Duas gerações, juntas, de militantes do MESS, em reverência ao CASS

Ainda entoei "a música de luta" das(os) estudantes de SS e ao descer me perguntaram pela nossa música e lembramos "da volta do cipó da aroeira no lombo de quem mandou dar".
Neste momento, já integrava a plenária, um amigo querido, Francisco Gonçalves, integrante do ME geral UFMA, na minha época, com quem participei da Chapa "Guarnicê" para disputar o DCE-UFMA, perdemos pra Chapa "Borandá", mas o movimento Guarnicê foi  fundamental na história da militância estudantil da UFMA e até hoje seus integrantes são referência nas lutas maranhenses. 

No dia seguinte, sábado, fui trabalhar com uma camiseta com a estampa do Che, para simbolizar um caminho que não devo esquecer: lutar, sempre, sem perder a ternura, jamais! 

Contei a Francisco o encontro com aquele Senhor e, somente naquela hora, ao contar e ouvir o que contava, tive a dimensão racionalizada daquele encontro. Concordamos que uma das faces do sentido da existência das Comissões da Verdade deve ser o seu caráter "purgativo". Precisamos desnudar o passado, enfrentá-lo, exorcizá-lo, responsabilizar sim, mas na medida de suas responsabilidades, todos os que praticaram atrocidades contra os que se rebelaram diante do autoritarismo das Ditaduras. Emocionamo-nos. Eu disse que escreveria sobre e ele me disse que o fizesse. E o faço, agora. Fica o registro e a esperança de que tenhamos uma democracia consolidada sob bases de humanidade.

Digo, mais uma vez: Valeu ter vivido pra viver tudo isto!



terça-feira, 14 de maio de 2013

Homenagem à 1ª Diretoria do Diretório Acadêmico de Estudantes de Serviço Social - DASS UFMA (1980)

Car@s,

Compartilho o Convite do CRESS que recebi para, em nome da 1ª Diretoria, pós Ditadura Militar, do Diretório Acadêmico de Estudantes de Serviço Social - DASS UFMA (1980) participar desta homenagem ao DASS, no contexto dos 60 anos do Curso de SS no Maranhão.

Quando relembro daquele tempo tão marcante e que fez a diferença na minha trajetória pessoal e profissional, celebro esta homenagem com mais intensidade!

Às queridas companheiras que participaram deste momento: recebam o Convite e participem da homenagem ao DASS!

Abraços,

Rita Luna Moraes