UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR DOM BOSCO
CURSO DE DIREITO
DIREITO AGRÁRIO
PROFESSOR ARNALDO VIEIRA SOUSA
ACADÊMICA: RITA
DE CÁSSIA LUNA MORAES
ATIVIDADE 2
O PAPEL DAS
LIGAS CAMPONESAS, COM BASE NO
FILME “CABRA
MARCADO PARA MORRER”
O filme “Cabra Marcado para
Morrer”, do cineasta brasileiro Eduardo Coutinho foi realizado em 02 (dois)
momentos históricos distintos: as primeiras cenas gravadas datam de 1964,
anteriores ao Golpe Militar, e, posteriormente, retomadas em 1984, no contexto
da chamada “distensão política”, pós-Anistia.
A narrativa dos personagens
– trabalhadores rurais do Nordeste brasileiro, traduzem a situação agrária da
época – década de 60, ainda presente não apenas nos 17 (dezessete) anos
posteriores – na retomada do Filme, mas, certamente, nos dias atuais.
No mês de
abril de 1962, quando tudo começa, o cineasta, integrante dos quadros do Centro
de Cultura Popular (CPC), da União Nacional dos Estudantes (UNE), participa da
caravana da UNE – Volante, que percorria todo o país discutindo a Reforma
Universitária e incentivando a formação de novos núcleos de cultura nos Estados. Neste momento, depara-se com o
assassinato do trabalhador rural João Pedro Teixeira, de 44 anos, morto com 03
(três) tiros de fuzil. Líder da Associação de Lavradores e Trabalhadores
Agrícolas de Sapé, na Paraíba, conhecida como Liga Camponesa de Sapé, a maior
do Nordeste, com cerca de 7000 (sete) mil sócios. Decide, então o cineasta,
filmar o Comício de protesto contra o assassinato do líder camponês.
As Ligas Camponesas
representavam o único meio legal para canalizar as reivindicações dos
trabalhadores, haja vista que àquela época a sindicalização rural era
praticamente um direito inexistente na prática. Assim, registrada no Cartório como
sociedade privada, atuava, na verdade, na organização política e sindical
(ainda que não houvesse clareza teórica deste movimento por parte até mesmo dos
líderes). O filme indica que o líder assassinado João Pedro “forjou a unidade dos camponeses da região”.
Destacam-se as reivindicações
que motivavam a organização e luta dos camponeses, incluída a fundação da Liga
de Sapé: o aumento do foro (pagamento anual pelos trabalhadores aos
proprietários das terras), o trabalho obrigatório sem pagamento efetivo, o
despejo sem indenização de benfeitorias e lavouras e o uso da violência pelos
grandes proprietários. Chama a atenção, ainda, para a motivação da criação da
Liga de Sapé, na fala do trabalhador e liderança João Virgínio, que habitava o
Engenho Galiléia, berço da organização: “comecei
a pensar em um fundamento de uma sociedade para os defuntos e o povo, porque os
defuntos eram enterrados em caixão emprestado pelo Prefeito, que tinha de ser
devolvido – chamava o caixão Loló”.
A Liga Camponesa de Sapé fortaleceu-se
com o processo de desapropriação do Engenho Galiléia – razão igualmente do
assassinato de João Pedro Teixeira. 150 (cento e cinqüenta) famílias cultivavam
lavoura de subsistência, o proprietário da terra residia em Recife – PE e os
trabalhadores revoltaram-se com o aumento do foro. Foram expulsos da terra. O
jovem advogado Francisco Julião, que se tornará expressiva liderança na
organização das Ligas Camponesas, assume a causa e conduz o problema junto aos
Deputados, que apóiam a desapropriação do Engenho. Representa um marco na luta
pela conquista da terra na região, levando os proprietários a considerarem um
estopim capaz de espalhar a mesma resolução para outras propriedades.
No segundo momento das
filmagens, o cineasta busca os personagens remanescentes, especialmente a viúva
Elizabeth Teixeira e seus filhos, dispersos e traumatizados, narrando o
processo de repressão e isolamento a que foram submetidas, bem como a
desarticulação do movimento camponês com o Golpe Militar, que atravessou 02
(duas) décadas e meia de história.
Para o líder morto João Pedro
“melhor morrer na bala, do que de fome”.
Reitera a viúva ao final do Filme: “Enquanto
o povo tem fome e salário de miséria, tem que lutar. Democracia sem liberdade,
com salário de fome, sem estudar?
REFERÊNCIAS:
RAMOS, Alcides Freire. A
historicidade de Cabra marcado para Morrer (1964-84, Eduardo Coutinho). Nuevo
Mundo Mundos Nuevos, Debates, 2006. Disponível em http://nuevomundo.revues.org/1520#tocto1n3
Acesso em 18.10.2011
Link http://www.megaupload.com/?d=4VFRUR26 para o Filme Cabra Marcado Para Morrer. Acesso em 18.10.2011.