Um "cadinho" de mim

São Luís, Maranhão, Brazil
Rita Luna Moraes Assistente Social e Bacharel em Direito. Servidora pública federal aposentada.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

“CABRA MARCADO PARA MORRER” em uma atividade acadêmica


UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR DOM BOSCO
CURSO DE DIREITO
DIREITO AGRÁRIO
PROFESSOR ARNALDO VIEIRA SOUSA
ACADÊMICA: RITA DE CÁSSIA LUNA MORAES
ATIVIDADE 2

O PAPEL DAS LIGAS CAMPONESAS, COM BASE NO
FILME “CABRA MARCADO PARA MORRER”

                    O filme “Cabra Marcado para Morrer”, do cineasta brasileiro Eduardo Coutinho foi realizado em 02 (dois) momentos históricos distintos: as primeiras cenas gravadas datam de 1964, anteriores ao Golpe Militar, e, posteriormente, retomadas em 1984, no contexto da chamada “distensão política”, pós-Anistia.
                    A narrativa dos personagens – trabalhadores rurais do Nordeste brasileiro, traduzem a situação agrária da época – década de 60, ainda presente não apenas nos 17 (dezessete) anos posteriores – na retomada do Filme, mas, certamente, nos dias atuais.
                   No mês de abril de 1962, quando tudo começa, o cineasta, integrante dos quadros do Centro de Cultura Popular (CPC), da União Nacional dos Estudantes (UNE), participa da caravana da UNE – Volante, que percorria todo o país discutindo a Reforma Universitária e incentivando a formação de novos núcleos de cultura nos EstadosNeste momento, depara-se com o assassinato do trabalhador rural João Pedro Teixeira, de 44 anos, morto com 03 (três) tiros de fuzil. Líder da Associação de Lavradores e Trabalhadores Agrícolas de Sapé, na Paraíba, conhecida como Liga Camponesa de Sapé, a maior do Nordeste, com cerca de 7000 (sete) mil sócios. Decide, então o cineasta, filmar o Comício de protesto contra o assassinato do líder camponês.
                  As Ligas Camponesas representavam o único meio legal para canalizar as reivindicações dos trabalhadores, haja vista que àquela época a sindicalização rural era praticamente um direito inexistente na prática. Assim, registrada no Cartório como sociedade privada, atuava, na verdade, na organização política e sindical (ainda que não houvesse clareza teórica deste movimento por parte até mesmo dos líderes). O filme indica que o líder assassinado João Pedro “forjou a unidade dos camponeses da região”.
                  Destacam-se as reivindicações que motivavam a organização e luta dos camponeses, incluída a fundação da Liga de Sapé: o aumento do foro (pagamento anual pelos trabalhadores aos proprietários das terras), o trabalho obrigatório sem pagamento efetivo, o despejo sem indenização de benfeitorias e lavouras e o uso da violência pelos grandes proprietários. Chama a atenção, ainda, para a motivação da criação da Liga de Sapé, na fala do trabalhador e liderança João Virgínio, que habitava o Engenho Galiléia, berço da organização: “comecei a pensar em um fundamento de uma sociedade para os defuntos e o povo, porque os defuntos eram enterrados em caixão emprestado pelo Prefeito, que tinha de ser devolvido – chamava o caixão Loló”.
                   A Liga Camponesa de Sapé fortaleceu-se com o processo de desapropriação do Engenho Galiléia – razão igualmente do assassinato de João Pedro Teixeira. 150 (cento e cinqüenta) famílias cultivavam lavoura de subsistência, o proprietário da terra residia em Recife – PE e os trabalhadores revoltaram-se com o aumento do foro. Foram expulsos da terra. O jovem advogado Francisco Julião, que se tornará expressiva liderança na organização das Ligas Camponesas, assume a causa e conduz o problema junto aos Deputados, que apóiam a desapropriação do Engenho. Representa um marco na luta pela conquista da terra na região, levando os proprietários a considerarem um estopim capaz de espalhar a mesma resolução para outras propriedades.
                  No segundo momento das filmagens, o cineasta busca os personagens remanescentes, especialmente a viúva Elizabeth Teixeira e seus filhos, dispersos e traumatizados, narrando o processo de repressão e isolamento a que foram submetidas, bem como a desarticulação do movimento camponês com o Golpe Militar, que atravessou 02 (duas) décadas e meia de história.
                  Para o líder morto João Pedro “melhor morrer na bala, do que de fome”. Reitera a viúva ao final do Filme: “Enquanto o povo tem fome e salário de miséria, tem que lutar. Democracia sem liberdade, com salário de fome, sem estudar?

REFERÊNCIAS:
RAMOS, Alcides Freire.  A historicidade de Cabra marcado para Morrer (1964-84, Eduardo Coutinho). Nuevo Mundo Mundos Nuevos, Debates, 2006. Disponível em http://nuevomundo.revues.org/1520#tocto1n3 Acesso em 18.10.2011

Link  http://www.megaupload.com/?d=4VFRUR26 para o Filme Cabra Marcado Para Morrer. Acesso em 18.10.2011.

Um de Nós - Marcelo Jeneci