Um "cadinho" de mim

São Luís, Maranhão, Brazil
Rita Luna Moraes Assistente Social e Bacharel em Direito. Servidora pública federal aposentada.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Morte e Vida

Quando me deparo com a inevitabilidade da morte,
retomo a consciência do quanto a vida é efëmera.

E ante a morte do outro, me pergunto: o que tenho feito da minha vida?
E se fosse eu, a morta? Já teria vivido o que há pra viver?

Não tenho medo de morrer: mas, antes, queria aprender a viver.

(Disse o marinheiro do submarino russo Kursky, que afundou em 2000)

Sábado, à tarde, ajudei a socorrer uma moça que passou mal no Supermercado.
No táxi para o Hospital, ela dizia para que não a deixássemos morrer...

que não podia morrer agora.
O medo de morrer era porque ainda não tinha vivido tudo o que espera viver...


E, me pergunto, o que esperamos, então, para viver...?
Ou, ainda, por que esperamos tanto tempo pra viver?
Vem a morte e nos diz que, talvez, não tenhamos todo o tempo que pensamos ter...
 

Tenho pensado muito em tudo isso e revisitado meus passos.
É sempre uma oportunidade de repensar a vida, essa tal morte.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sobrados de São Luís: Uma tragédia que se repete...

Publico este artigo sobre São Luís como minha homenagem ao escritor maranhense e Bacharel em Direito pela USP, Abimael Ferracinni, falecido na noite passada. Escrito em 2008, mas, infelizmente, tão atual...

Como já era de se esperar, mais um casarão do centro histórico desabou, há alguns dias, por conta das fortes chuvas e do estado de abandono em que ele se encontrava.
Impressiona a falta de ideias, de iniciativa e de disposição dos órgãos competentes para resolver esse problema. Consta, até, que já haveria uma lista considerável de casarões que estariam sob o risco de desabamento iminente e de outros tantos imóveis históricos que estão em situação precária e, nem assim, alguém aqui toma uma atitude real para tentar resolver esse problema... Ficam todos no discurso recheado de boas intenções e nas desculpas burocráticas de sempre...
As pessoas daqui simplesmente não percebem que há o risco de que essa nossa "inércia" possa ser interpretada como escárnio da nossa parte para com as demais "Cidades Patrimônio Mundial", que realizam um sério trabalho de preservação de seus acervos arquitetônicos, demonstrando respeito pelo título que receberam da UNESCO.
Infelizmente, estamos desonrando e vilipendiando o título de "Cidade Patrimônio Mundial" que São Luís recebeu há mais de dez anos, e esse fato é muito, muito deprimente...
Enquanto isso, na região da Ponta d'Areia - Renascença - Calhau, proliferam as construções de luxuosíssimos condomínios verticais, e nem ao menos se sabe se esses novos empreendimentos imobiliários estão sendo erguidos com alguma preocupação pela degradação ambiental que eles certamente irão causar.
Pelo que se pode constatar, há muito dinheiro circulando por aqui. O que está faltando é um respeito maior das pessoas pela arquitetura colonial de São Luís, que é o símbolo maior da identidade da cidade.
Talvez os velhos sobrados do nosso centro histórico despertem amargas recordações nos moradores da cidade. Lembranças sobre como fomos à falência, no final do século XIX, e de como vivemos na penúria, na maior parte do século XX.
É compreensível que as pessoas queiram esquecer esse período e os efeitos que ele causou em nossas vidas. Mas não é aceitável que eles queiram, ou permitam, que as evidências de que esse período existiu sejam destruídas pelo descaso e abandono.
Goste-se ou não, essa é a nossa História. Talvez ela não seja bela, nem gloriosa, mas é a que temos, e somos hoje o produto de tudo o que ocorreu em nosso passado coletivo. Devemos respeitá-la, portanto, pois diz o ditado popular que "quem esquece dos erros de seu passado, está condenado a sempre repeti-los".
Se o Poder Público não tem recursos para restaurar os casarões coloniais do centro histórico, deveria ao menos obrigar essas construtoras, que estão lucrando muito com a construção desses novos condomínios em nossa orla marítima, para que executem ou financiem esse serviço de restauração, como condição para a concessão de autorizações para a construção de futuros empreendimentos imobiliários.
Afinal, se essas empresas não tomam essa iniciativa de livre e espontânea vontade, alguém deve lembrá-las que esse tipo de atividade não deve buscar apenas o lucro financeiro, mas também a qualidade de vida e o bem-estar da comunidade onde ela é exercida.
Esse é o significado da expressão "Responsabilidade Social das Empresas". É bem possível que os empresários do setor da construção civil já tenham ouvido essa expressão antes e saibam bem o que ela significa. Fazer de conta que a restauração dos sobrados de São Luís é um problema que não diz respeito a eles, ou a todos os que nasceram e vivem na cidade, pode significar que talvez estejamos repetindo um erro que já se cometeu aqui, no passado.
Ou será que há alguém aqui que queira viver novamente no tempo das "vacas magras"?

Abimael Ferracinni. 

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Carta à amiga Josefa,

Querida,
Neste fevereiro, as homenagens aos 101 anos de vida da extraordinária mulher e militante comunista Maria Aragão se fizeram com a exibição de filmes e debates, em programação nominada de Semana Político-Cultural.
Em forte abraço, disseste-me o quanto aquele momento também foi fértil pelos reencontros que produziu. Amigas hoje e professora e aluna, ontem. E, sempre, “nas cenas da vida”, para ensinar/aprender/ensinar.
Coisas de Maria: reunir, unir, debater e lutar!
Como uma “nota de canapé”* – “coisas pequenas e saborosas, algumas doces, outras apimentadas, que abrem o apetite, e que são servidas no meio da festa” - muito bem “retratou” Maria Aragão o nosso cineasta-símbolo Murilo Santos no documentário que abriu as sessões. *Rubem Alves diz que “nota de rodapé”, porque fica ao “pé da página”, “é coisa que fica à altura do pé”, sendo incômodo ficar olhando para baixo.. Sugere, então, “nota de canapé”, ao lado do texto, para saborear melhor  as informações. Prefácio  de “Variações sobre o Prazer – Santo Agostinho, Nietzsche, Marx e Babette”, um excelente livro de filosofia, prazer, comida, vida  e outras  “variações”.
Afinal, a vida de Maria e os filmes exibidos têm tudo a ver - ambos são para ser “devorados” em sua essência e saciam a fome de “igualdade, liberdade e fraternidade”, ideário tão antigo quanto novo em nossa “pós-modernidade”.
Assim, no Cine Praia Grande, o premiado cineasta Silvio Tendler, presente ao evento, brindou-nos com 2 de seus filmes-documentários: “Utopia e Barbárie” e “Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global visto do lado de cá”. Privilegiados, nós, que estivemos lá e podemos dizer – de novo, parafraseio o poeta: “Meninos, eu vi!” - nós vimos!
Embora, como nos informou Tendler , não sirvamos como contagem de bilheteria; ainda que sejamos muitos a ver seus filmes, isso não conta na hora de receber recursos públicos para produção, pois não têm espaço e distribuição nos cinemas dos shoppings. Haja “miopia” nessas regras. Filmes-documentários como esses que vimos valem como verdadeiras “aulas”, que merecem ser assistidas por todos.
 O resgate histórico-político-social de grandes “barbáries” da humanidade, como o holocausto e as ditaduras latino-americanas e “utopias” como o socialismo na União Soviética e em Cuba, os movimentos da contracultura, a queda do muro de Berlim, para ficar em alguns exemplos, analisados e contados por personagens que viveram (ou sobreviveram), em depoimentos emocionantes e profundos, e que nos trazem às “barbáries e utopias” de nosso tempo.
Noticia-se que o Estado do Maranhão será denunciado à ONU em face da situação carcerária, exposta visivelmente pelas sucessivas “degolações” de presos. Poderíamos aproveitar e denunciar, também, a insegurança alimentar, o analfabetismo, o trabalho escravo e a morte de trabalhadores rurais, que nos transformam em “bárbaros” em pleno século XXI.
A construção/desconstrução/reconstrução de “barbáries e utopias”, lição de casa no pensamento vivo de Milton Santos, advogado e geógrafo, internacionalmente reconhecido, 10 anos após sua morte, traduz-se em lição contemporânea a explicar o “globaritarismo"*, nova fase de totalitarismo, “conduzindo-nos para formas de relações econômicas implacáveis, que não aceitam discussão, que exigem obediência imediata”. Livro: Encontros, A arte da Entrevista – Milton Santos  Editora Azougue, 2007.

As “utopias” de nossos dias resistem na luta de militantes e defensores de direitos humanos fundamentais, em um contexto de projetos de “desenvolvimento” excludentes da nossa gente.
Celebremos, pois, com outro forte abraço, a renovação do espírito de Maria e Milton Santos, exemplos de ensinamentos e vivências, a nos inspirar sempre em nossas vidas:
“Maria, Maria,    (*Milton Nascimento, na voz de Elis Regina: interpretação memorável! )
Mistura a dor e a alegria
Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De  ter  fé na vida .”






sábado, 19 de fevereiro de 2011

Ambiente e governos: Quem governa as chuvas, as secas, as vidas das pessoas?

Jan.2011
Rita de Cássia Luna Moraes*
compartilhado, originalmente, apenas com uma amiga...
                   Coincidência? No mesmo mês, quase no mesmo dia, em que o Haiti aniversariava seu terremoto devastador, assiste-se à tragédia das enchentes no Rio de Janeiro, somando-se às igualmente trágicas em Alagoas e Pernambuco, em 2010, estas já retiradas do noticiário para dar lugar a mais nova (???) saga das famílias lavadas de suas casas. Sem esquecer, das havidas em São Paulo, maior cidade da América Latina.
                   Desde o final do ano que há pouco se despediu, a seca apresenta-se no Rio Grande do Sul, somando-se à secular do Nordeste, de tão costumeira memória. Nestas, os mortos não aparecem aos montes. Vão-se, seca e mansamente, a cada dia. Nem ocupam mais o tempo de mídia. Já são notícias velhas.
                   Em São Luís, retornam ao cenário, após as primeiras chuvas, as localidades Sá Viana, Salinas do Sacavém, Coroadinho, Piancó, Tibirizinho e mais outras (não contadas antes ou novas?). No Estado, de novo, reaparecem Imperatriz, Pedreiras, Trizidela do Vale, dentre outros municípios mais castigados. Castigo???
                   É, mais uma vez, o poeta Caetano Veloso tem toda a razão, em uma das suas mais belas músicas: “O Haiti é aqui!”. Triste, mas, realisticamente, verdadeiro! Alguma surpresa?
                   Os governos culpam as chuvas (ou as secas, ou seja, a natureza) ou os que habitam as ocupações irregulares; ou, ainda, culpam-se entre si: há dinheiro federal, mas não há projeto municipal ou cooperação estadual. Pergunta-se: qual será a causa mortis?
                   A Constituição Federal – a Constituição Cidadã, de Ulisses Guimarães, há 22 anos, destaca dentre os direitos e garantias fundamentais o de moradia (art. 6º) e dentro da ordem social o do meio ambiente equilibrado (art. 225), reproduzidos, à semelhança nas Constituições Estaduais e nas Leis Orgânicas Municipais. A quem cabe garantir e ordenar esses direitos? Apontar para os governos, exclusivamente, é a tarefa mais fácil, nestes momentos. Qual a parcela de responsabilidade de cada um?
                   Que as condições climáticas estão alteradas, para dizer o mínimo, todos sabem! Que não se tem sistemas de alerta e prevenção, igualmente! Que os governos são bem paquidermes nas obras necessárias, os exemplos surgem às montanhas! Que há os que ganham com a “indústria das enchentes”, como ganharam sempre e continuam a ganhar aqueles com a “indústria das secas”, ora, é uma zona franca só!
                   Que fazem, na prevenção ou na responsabilização, o Ministério Público, o Judiciário, o Tribunal de Contas, a Ordem dos Advogados, a Defensoria Pública contra aqueles que, em vez de assegurar direitos, contribuem para dizimar a própria vida?
                   Que fazem os Sindicatos, Partidos Políticos, Universidades, Associações civis, movimentos sociais e cidadãos, para o enfrentamento adequado das questões ambientais e de moradia, especificamente: lembram-se disso quando apóiam, pensam, votam e, depois, pressionam nos Parlamentos, os eleitos?
                   O que fazem, todos, autoridades constituídas e sociedade, cada qual com seu poder, para que, antes de contar mortos, não haja lixões nem águas poluídas, por exemplo; antes de serem liberadas as licenças ambientais a grandes (em que???) projetos de “desenvolvimento” cercarem-se de todas as precauções possíveis para minimizar os impactos sobre o ambiente, especialmente, os que alteram radicalmente a vida natural e das pessoas?  O que fazem todos ANTES de as pessoas morarem nas “moradias irregulares”? Ficam cegos e voltam a vê-las quando as chuvas chegam?
                   As contradições (chuva e seca) se renovam e indignam, pois são tragédias anunciadas e, em certa medida, previsíveis...  Mas, cada vez mais, avassaladoras! A quatrocentona São Luís e as cidades tradicionalmente atingidas no Estado não ficam de fora. A cada chuva ou seca, famílias mais vulneráveis são, certamente, as mais desprotegidas. Embora os impactos ambientais sejam democráticos, atingem cada segmento de modo diverso e desigualmente perverso.
                  É passada a hora de fazer muito mais do que a solidariedade humana nos impõe no calor das tragédias. Antes que cada trabalhador tenha que reservar parte de seu 13º salário, recebido ao fim do ano, para a ajuda humanitária do início do outro ano. E a julgar pelo avanço das tragédias, o percentual de reserva em pouco tempo será superior ao da compra de material escolar, que de tão caro, ameaça a educação, outro direito fundamental e imprescindível na prevenção de tragédias.
                  Ano que vem, em janeiro, mais ou menos trágico, encontro marcado! Se algo for feito em benefício da vida, quem sabe há de se falar em flores. Se nada ou pouco for feito, ter-se-á mais um ano de vida para chorar! Lágrimas inundarão os secos solos dos corações omissos.
                  Urge que cada um faça a sua parte: governos, autoridades, sociedade e indivíduos! O ambiente nos governará a todos – a natureza, em todas as suas dimensões e os seres humanos, com todas as suas ações!
 *Assistente Social e Acadêmica de Direito
                   

Meninos/meninas eu vi e ouvi ! Um olhar sobre Direitos Humanos, Palhaços e Noel Rosa

Dez.2010
publicado originalmente no blogue: zemaribeiro.blogspot.com
Rita de Cássia Luna Moraes[1]
                         Para quem prima pelo melhor uso do tempo, dezembro, em nossa querida São Luís, está sendo pródigo: Mostra de Cinema e Direitos Humanos na América do Sul, comemoração do Dia Internacional do Palhaço e celebração dos 100 anos de vida de Noel Rosa. Tomando emprestado do poeta, em livre sentir: Meninos/meninas eu vi e ouvi !
                         Com temática tão abrangente quanto necessária, a Mostra de Cinema desembarcou em nossa terra para não mais deixar de integrar o circuito anual: cerca de 1600 expectadores assistiram 41 filmes em suas 24 sessões, incluídos nacionais e de mais 9 países da América do Sul. Poderia ter sido maior essa presença, vez que houve sessões com ocupação do Cine Praia Grande de apenas de 50 a 60%. Talvez, se os professores, em todos os níveis, não permanecessem tão engessados em cumprir carga horária e dias letivos sem vislumbrarem o quanto seus alunos aprenderiam em uma Mostra de Cinema, que, no caso, possuía sessões desde a primeira hora da tarde e, sempre, com entrada gratuita e acessível a deficientes.
                         Tempos de violência explícita contra crianças, adolescentes, idosos, pessoas com deficiências, mulheres, presos, negros, quilombolas, indígenas, homossexuais, para ficar apenas nestas populações próprias, ou, ainda, a violência contra o meio ambiente, faz de nosso Estado expectador, às vezes inerte, da constante violação de direitos humanos básicos, que não atinge apenas os envolvidos, individualmente, mas fere profundamente a sociedade em que vivemos. Cedo ou tarde somos todos nós atingidos.
                         Os filmes da Mostra induzem à reflexão e mobilização, se nos permitirmos tanto. E, embora a temática seja em si dramática, a abordagem sensível e, por vezes, poética, trazida por seus produtores, diretores e atores carregam-nos de esperança e luz no caminhar diário por um mundo melhor.
                         Não há espaço, neste texto, para o comentário dos filmes.  Pode ser encontrada a ficha técnica/catálogo no sítio eletrônico da Mostra www.cinedireitoshumanos.org.br , pois alguns estão disponíveis em DVD. Infelizmente, muitos dos curtas e médias-metragens não estão acessíveis e houve muitos de qualidade e abordagem maravilhosas, especialmente os nacionais.
                          10 de dezembro marca, igualmente, o Dia Internacional dos Direitos Humanos e o Dia Internacional do Palhaço. Coincidência feliz, não? Ser alegre também é um direito humano e dos mais básicos! Houve programação e celebração para ambos.
                          A Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, entidade valorosa existente há 30 anos, promoveu um Seminário para refletir, avaliar e propor ações em defesa dos “defensores” dos Direitos Humanos, ameaçados com a criminalização dos movimentos sociais. Os resultados podem ser conferidos em www.smdh.org.br , e amplamente divulgados, como contribuição efetiva mínima de cada um. No mesmo sentido, grupos organizados das comunidades de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais promoveram debates e propostas para a construção de uma rede de políticas públicas que garantam sua tão negada cidadania. A Campanha Estadual de Combate à Homofobia, com um calendário de ações até 2014, trará, certamente, desafios igualmente a cada um de nós, independentemente de que sejamos hetero ou homo, bastando apenas que sejamos humanos, vez que diversos já somos.
                          “A gente não quer só comida: a gente quer comida, diversão e arte”, dizem os poetas do grupo de rock Titãs. Assim, a “palhaçada” tomou conta da praça e trouxe à comemoração do Dia Internacional do Palhaço o sentido da alegria genuína tão própria nas crianças quanto esquecida entre nós, os adultos.  Como parte do Projeto Treinamento Circense, coordenado pelo artista Gilson César, desfilaram palhaços, malabaristas e atores. Todos os palhaços merecem  destaque por não deixarem sucumbir arte fundamental na nossa cultura popular. Houve também a encenação teatral baseada no cordel “João da Boa Morte: cabra marcado para morrer”, do poeta maranhense Ferreira Gullar, que trata da problemática da posse da terra, as más condições de quem não possui a propriedade e se vê obrigado a trabalhar para os chamados coronéis. Aqui cruzam-se de novo os direitos humanos básicos: alegria e terra.
                         Contundente e apropriado o protesto feito por um palhaço, no evento deste 10 de dezembro, contra a comparação maldosa feita entre este ilustre artista (o palhaço) e os políticos e governantes corruptos. Vale repetir seu bordão, acompanhado por toda a plateia: “Palhaço é Palhaço e ladrão é ladrão”. Também contestou o uso do “nariz de palhaço – a bola vermelha” quando há movimentos reivindicatórios de trabalhadores ou estudantes, ou seja, há, em ambos os casos, a depreciação da figura do palhaço. Vale a reflexão e a mudança de atitude. Que sobressaiam o sorriso e a alegria, capazes de nos encher de gás para toda a vida.
                         Para coroar a metade deste dezembro, juntaram-se os poetas/músicos Cesar Teixeira, Joãozinho Ribeiro, Josias Sobrinho e Chico Saldanha e nos brindaram com uma emocionante homenagem aos 100 anos de poesia, música e vida do poeta Noel Rosa. Passeando pelos clássicos musicais que, com certeza, cantados por nossas queridas mães ou celebrados em nossas “fossas”, embalaram muitos de nós, os grandes “poetas da Ilha” bem representaram “o poeta da Vila”.
                        Canções como “Feitiço da Vila”, “Conversa de botequim”, “Pra que mentir?”, “Último Desejo”, “O orvalho vem caindo”, “Com que roupa?”, “Até amanhã” e “Fita Amarela” foram algumas das pérolas lançadas aos sedentos de boa cultura que prestigiaram o show/celebração. Casa lotada como deveria ser qualquer produção local.
                        Participações especiais de Lena Machado, Lenita Pinheiro, Célia Maria e Léo Espirro integraram o arco de benfeitores da música, que, traduzindo o sentimento de Noel, trazem para a nossa São Luís o sentimento de pertencimento a uma terra, como o foi Noel para a sua Vila Isabel. Samba, amor, alegria, cultura, diversidade, tudo havia em Noel e, mesmo morto jovem, produziu um acervo poético de rara beleza e envolvimento. A nos envolver em busca da plenitude de direitos humanos.
                       Vivas ao Cinema, ao Palhaço e à Música!
                                                Viva a Vida!                      



[1] Assistente Social e Acadêmica de Direito

Something Inside - O Som do Coração (August Rush)

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Carta a minha amiga Keila


Querida,
Inauguro, neste dia de seu aniversário, 13 de fevereiro, uma nova experiência em minha vida.
Compartilhar, com meus amigos, através de “cartas”, o que vivo, penso, leio, vejo, ouço e aprecio.Será como uma “conversa” entre amigos. A cada vez, será dirigida a um amigo, a quem homenagearei e todos os que as receberem serão co-destinatários.
Assim, por meio desta, hoje, todos os meus amigos chamam-se Keila: minha amiga de juventude, de fé religiosa e de sonhos. Sonhamos junto, um grupo de amigos da Igreja, sair pelo mundo “pregando” a boa nova. Cada um de nós terminou por “cair no mundo” e vivendo o que acredita ser o melhor. De alguns, pouco tenho notícias. Mas, de outros, sei que estão bem e conquistando seus espaços, como tu, cara amiga, a quem felicito e desejo saúde, luz e serenidade! Vamos conversar, pois.
Nesta semana, impressionou-me uma reportagem a que assisti sobre o Filme-Documentário “Lixo Extraordinário”, do artista plástico Vik Muniz, concorrente ao Oscar nesta categoria. Um dos personagens, “Zumbi” - que vive como catador desde os 12 anos de idade no lixão Jardim Gramacho, em Duque de Caxias – RJ (maior lixão a céu aberto do mundo) - recolheu durante todo este tempo, do lixão, mais de 10 mil livros, que estão na casa da Associação de Catadores. Ele destacou que gostou muito de ler Machado de Assis e que lia de tudo, até livro de receitas.  E sequer concluiu o ensino formal. Fiquei pensando o quanto de sabedoria reside neste catador: valorizar o que pode aprender com os livros e buscar formas de compartilhar. Nós, certamente, que temos melhores condições que ele, muitas vezes desprezamos as oportunidades de conhecer e agregar os que estão a nossa volta. O link para ver o trailler do filme é www.wastelandmovie.comO “Zumbi” não aparece no trailler. Mas no sítio do filme, é possível conhecer a história dos catadores. Não sei, ainda, se o filme entrará em circuito comercial, mas vale a pena conhecer a história e refletir. A que estamos nos reduzindo... As imagens reais e as recriadas pelo artista são impressionantes!
No mesmo tema – lixo - vale o registro da “lavagem” da Fonte do Ribeirão. Nossa cidade está cercada de lixo e nossos espaços histórico-culturais, então... A mobilização da sociedade (artistas, militantes sociais e cidadãos) faz toda a diferença. Os governos têm sua responsabilidade, sim e nós, também! Sabemos o que fazer e para onde vai nosso lixo? Não temos mais o “lixão do Jaracati”; contudo, nosso Aterro da Ribeira está saturado e inadequado. Nosso lençol freático comprometido e nossas ruas e praias “entulhadas” de lixo “doméstico”. Quando chove, as galerias entupidas produzem os alagamentos. E não são apenas nos bairros “populares” que isso ocorre. Embora piorem com os deslizamentos. Não se pode ser indiferente.
Mudando de papo, postei um comentário (segue abaixo) no blogue do jornalista Zema Ribeiro, que visito diariamente e que recomendo (onde, às vezes, comento) acerca de um artigo sobre os mercados de São Luís. A reportagem encontra-se na Revista TOP (à venda nas bancas e disponíveis em recepções de clínicas, também...). Uma produção local, com algumas matérias interessantes, das quais, sem dúvida, a melhor é a de Zema Ribeiro. Mas registro ainda a do escritor maranhense Bruno Azevêdo sobre “o cachorro quente do Souza” e as “dicas” de livros, DVDs, CDs, do Itevaldo Junior. Vale a pena! COMENTÁRIO NO BLOGUE: Caro Zeca, na recepção da clínica dentária, deparei-me com a revista e, grata surpresa, vi teu artigo sobre os mercados de nossa cidade. Texto e fotos maravilhosos! Parabéns! Acho que devíamos fazer uma campanha para melhor preservação deles. O Bar do Léo é patrimônio imaterial da nossa melhor cultura! Abraço, Rita.(www.zemaribeiro.blogspot.com)
Impossível deixar de registrar o caos do nosso sistema penitenciário: mais 6 mortes, nesta semana. Comentando, perguntei eu, à Secretária de Estado de Direitos Humanos: Quantos ainda morrerão???!!! Ano passado, 18 em Pedrinhas. Ainda ouvi na TV apresentadores de programas “populares” dizendo que foi “bem feito” que o “pedófilo” de Pinheiro tenha sido morto (decapitado). Instigam à lei de Talião (“olho por olho”) ante a falência do poder do Estado. De novo: A que estamos nos reduzindo... E reduzidos!

AGENDE-SE E DIVULGUE:
* 14.02 a 07.03.11 – Campanha de Doação de Sangue – HEMOMAR – Alguns locais e datas da unidade móvel de coleta de sangue durante a campanha: (Não espere precisar, para doar-se!)
- 16/2 (quarta-feira) – Campus I UNICEUMA (Renascença II)
- 23/2 (quarta-feira) – Praça Deodoro

* 16.02. Quarta – 19h - Odylo Costa, filho – Praia Grande - Filme-Documentário: “Utopias e Barbárie” e Bate-papo com o autor: cineasta Sílvio Tendler - Comemoração dos 101 anos de vida de Maria Aragão 

Para finalizar: “O Discurso do Rei”, filme em cartaz nos cinemas. Mostra que “até um gago pode ser Rei” e o Livro: “Nelson Mandela – Conversas que tive comigo”, Editora Rocco, sempre uma lição de vida. 

Um beijo carinhoso e uma vida cheia de luz.

De sua sempre amiga, Rita.