Um "cadinho" de mim

São Luís, Maranhão, Brazil
Rita Luna Moraes Assistente Social e Bacharel em Direito. Servidora pública federal aposentada.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Carta à amiga Josefa,

Querida,
Neste fevereiro, as homenagens aos 101 anos de vida da extraordinária mulher e militante comunista Maria Aragão se fizeram com a exibição de filmes e debates, em programação nominada de Semana Político-Cultural.
Em forte abraço, disseste-me o quanto aquele momento também foi fértil pelos reencontros que produziu. Amigas hoje e professora e aluna, ontem. E, sempre, “nas cenas da vida”, para ensinar/aprender/ensinar.
Coisas de Maria: reunir, unir, debater e lutar!
Como uma “nota de canapé”* – “coisas pequenas e saborosas, algumas doces, outras apimentadas, que abrem o apetite, e que são servidas no meio da festa” - muito bem “retratou” Maria Aragão o nosso cineasta-símbolo Murilo Santos no documentário que abriu as sessões. *Rubem Alves diz que “nota de rodapé”, porque fica ao “pé da página”, “é coisa que fica à altura do pé”, sendo incômodo ficar olhando para baixo.. Sugere, então, “nota de canapé”, ao lado do texto, para saborear melhor  as informações. Prefácio  de “Variações sobre o Prazer – Santo Agostinho, Nietzsche, Marx e Babette”, um excelente livro de filosofia, prazer, comida, vida  e outras  “variações”.
Afinal, a vida de Maria e os filmes exibidos têm tudo a ver - ambos são para ser “devorados” em sua essência e saciam a fome de “igualdade, liberdade e fraternidade”, ideário tão antigo quanto novo em nossa “pós-modernidade”.
Assim, no Cine Praia Grande, o premiado cineasta Silvio Tendler, presente ao evento, brindou-nos com 2 de seus filmes-documentários: “Utopia e Barbárie” e “Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global visto do lado de cá”. Privilegiados, nós, que estivemos lá e podemos dizer – de novo, parafraseio o poeta: “Meninos, eu vi!” - nós vimos!
Embora, como nos informou Tendler , não sirvamos como contagem de bilheteria; ainda que sejamos muitos a ver seus filmes, isso não conta na hora de receber recursos públicos para produção, pois não têm espaço e distribuição nos cinemas dos shoppings. Haja “miopia” nessas regras. Filmes-documentários como esses que vimos valem como verdadeiras “aulas”, que merecem ser assistidas por todos.
 O resgate histórico-político-social de grandes “barbáries” da humanidade, como o holocausto e as ditaduras latino-americanas e “utopias” como o socialismo na União Soviética e em Cuba, os movimentos da contracultura, a queda do muro de Berlim, para ficar em alguns exemplos, analisados e contados por personagens que viveram (ou sobreviveram), em depoimentos emocionantes e profundos, e que nos trazem às “barbáries e utopias” de nosso tempo.
Noticia-se que o Estado do Maranhão será denunciado à ONU em face da situação carcerária, exposta visivelmente pelas sucessivas “degolações” de presos. Poderíamos aproveitar e denunciar, também, a insegurança alimentar, o analfabetismo, o trabalho escravo e a morte de trabalhadores rurais, que nos transformam em “bárbaros” em pleno século XXI.
A construção/desconstrução/reconstrução de “barbáries e utopias”, lição de casa no pensamento vivo de Milton Santos, advogado e geógrafo, internacionalmente reconhecido, 10 anos após sua morte, traduz-se em lição contemporânea a explicar o “globaritarismo"*, nova fase de totalitarismo, “conduzindo-nos para formas de relações econômicas implacáveis, que não aceitam discussão, que exigem obediência imediata”. Livro: Encontros, A arte da Entrevista – Milton Santos  Editora Azougue, 2007.

As “utopias” de nossos dias resistem na luta de militantes e defensores de direitos humanos fundamentais, em um contexto de projetos de “desenvolvimento” excludentes da nossa gente.
Celebremos, pois, com outro forte abraço, a renovação do espírito de Maria e Milton Santos, exemplos de ensinamentos e vivências, a nos inspirar sempre em nossas vidas:
“Maria, Maria,    (*Milton Nascimento, na voz de Elis Regina: interpretação memorável! )
Mistura a dor e a alegria
Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De  ter  fé na vida .”






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