Um "cadinho" de mim

São Luís, Maranhão, Brazil
Rita Luna Moraes Assistente Social e Bacharel em Direito. Servidora pública federal aposentada.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Meninos/meninas eu vi e ouvi ! Um olhar sobre Direitos Humanos, Palhaços e Noel Rosa

Dez.2010
publicado originalmente no blogue: zemaribeiro.blogspot.com
Rita de Cássia Luna Moraes[1]
                         Para quem prima pelo melhor uso do tempo, dezembro, em nossa querida São Luís, está sendo pródigo: Mostra de Cinema e Direitos Humanos na América do Sul, comemoração do Dia Internacional do Palhaço e celebração dos 100 anos de vida de Noel Rosa. Tomando emprestado do poeta, em livre sentir: Meninos/meninas eu vi e ouvi !
                         Com temática tão abrangente quanto necessária, a Mostra de Cinema desembarcou em nossa terra para não mais deixar de integrar o circuito anual: cerca de 1600 expectadores assistiram 41 filmes em suas 24 sessões, incluídos nacionais e de mais 9 países da América do Sul. Poderia ter sido maior essa presença, vez que houve sessões com ocupação do Cine Praia Grande de apenas de 50 a 60%. Talvez, se os professores, em todos os níveis, não permanecessem tão engessados em cumprir carga horária e dias letivos sem vislumbrarem o quanto seus alunos aprenderiam em uma Mostra de Cinema, que, no caso, possuía sessões desde a primeira hora da tarde e, sempre, com entrada gratuita e acessível a deficientes.
                         Tempos de violência explícita contra crianças, adolescentes, idosos, pessoas com deficiências, mulheres, presos, negros, quilombolas, indígenas, homossexuais, para ficar apenas nestas populações próprias, ou, ainda, a violência contra o meio ambiente, faz de nosso Estado expectador, às vezes inerte, da constante violação de direitos humanos básicos, que não atinge apenas os envolvidos, individualmente, mas fere profundamente a sociedade em que vivemos. Cedo ou tarde somos todos nós atingidos.
                         Os filmes da Mostra induzem à reflexão e mobilização, se nos permitirmos tanto. E, embora a temática seja em si dramática, a abordagem sensível e, por vezes, poética, trazida por seus produtores, diretores e atores carregam-nos de esperança e luz no caminhar diário por um mundo melhor.
                         Não há espaço, neste texto, para o comentário dos filmes.  Pode ser encontrada a ficha técnica/catálogo no sítio eletrônico da Mostra www.cinedireitoshumanos.org.br , pois alguns estão disponíveis em DVD. Infelizmente, muitos dos curtas e médias-metragens não estão acessíveis e houve muitos de qualidade e abordagem maravilhosas, especialmente os nacionais.
                          10 de dezembro marca, igualmente, o Dia Internacional dos Direitos Humanos e o Dia Internacional do Palhaço. Coincidência feliz, não? Ser alegre também é um direito humano e dos mais básicos! Houve programação e celebração para ambos.
                          A Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, entidade valorosa existente há 30 anos, promoveu um Seminário para refletir, avaliar e propor ações em defesa dos “defensores” dos Direitos Humanos, ameaçados com a criminalização dos movimentos sociais. Os resultados podem ser conferidos em www.smdh.org.br , e amplamente divulgados, como contribuição efetiva mínima de cada um. No mesmo sentido, grupos organizados das comunidades de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais promoveram debates e propostas para a construção de uma rede de políticas públicas que garantam sua tão negada cidadania. A Campanha Estadual de Combate à Homofobia, com um calendário de ações até 2014, trará, certamente, desafios igualmente a cada um de nós, independentemente de que sejamos hetero ou homo, bastando apenas que sejamos humanos, vez que diversos já somos.
                          “A gente não quer só comida: a gente quer comida, diversão e arte”, dizem os poetas do grupo de rock Titãs. Assim, a “palhaçada” tomou conta da praça e trouxe à comemoração do Dia Internacional do Palhaço o sentido da alegria genuína tão própria nas crianças quanto esquecida entre nós, os adultos.  Como parte do Projeto Treinamento Circense, coordenado pelo artista Gilson César, desfilaram palhaços, malabaristas e atores. Todos os palhaços merecem  destaque por não deixarem sucumbir arte fundamental na nossa cultura popular. Houve também a encenação teatral baseada no cordel “João da Boa Morte: cabra marcado para morrer”, do poeta maranhense Ferreira Gullar, que trata da problemática da posse da terra, as más condições de quem não possui a propriedade e se vê obrigado a trabalhar para os chamados coronéis. Aqui cruzam-se de novo os direitos humanos básicos: alegria e terra.
                         Contundente e apropriado o protesto feito por um palhaço, no evento deste 10 de dezembro, contra a comparação maldosa feita entre este ilustre artista (o palhaço) e os políticos e governantes corruptos. Vale repetir seu bordão, acompanhado por toda a plateia: “Palhaço é Palhaço e ladrão é ladrão”. Também contestou o uso do “nariz de palhaço – a bola vermelha” quando há movimentos reivindicatórios de trabalhadores ou estudantes, ou seja, há, em ambos os casos, a depreciação da figura do palhaço. Vale a reflexão e a mudança de atitude. Que sobressaiam o sorriso e a alegria, capazes de nos encher de gás para toda a vida.
                         Para coroar a metade deste dezembro, juntaram-se os poetas/músicos Cesar Teixeira, Joãozinho Ribeiro, Josias Sobrinho e Chico Saldanha e nos brindaram com uma emocionante homenagem aos 100 anos de poesia, música e vida do poeta Noel Rosa. Passeando pelos clássicos musicais que, com certeza, cantados por nossas queridas mães ou celebrados em nossas “fossas”, embalaram muitos de nós, os grandes “poetas da Ilha” bem representaram “o poeta da Vila”.
                        Canções como “Feitiço da Vila”, “Conversa de botequim”, “Pra que mentir?”, “Último Desejo”, “O orvalho vem caindo”, “Com que roupa?”, “Até amanhã” e “Fita Amarela” foram algumas das pérolas lançadas aos sedentos de boa cultura que prestigiaram o show/celebração. Casa lotada como deveria ser qualquer produção local.
                        Participações especiais de Lena Machado, Lenita Pinheiro, Célia Maria e Léo Espirro integraram o arco de benfeitores da música, que, traduzindo o sentimento de Noel, trazem para a nossa São Luís o sentimento de pertencimento a uma terra, como o foi Noel para a sua Vila Isabel. Samba, amor, alegria, cultura, diversidade, tudo havia em Noel e, mesmo morto jovem, produziu um acervo poético de rara beleza e envolvimento. A nos envolver em busca da plenitude de direitos humanos.
                       Vivas ao Cinema, ao Palhaço e à Música!
                                                Viva a Vida!                      



[1] Assistente Social e Acadêmica de Direito

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