Nesta última quinta-feira, 19 de junho, celebração de Corpus Christi, feriado, logo cedo, tomando café com beiju, na Padaria perto de casa, lendo a versão impressa do jornal O Estado do Maranhão* deparei-me com um artigo que me chamou a atenção por seu título e sua assinatura. Extraordinariamente envolvente. Leitura de fôlego só. Identifiquei, pela qualidade da escrita, que seria de minha querida amiga Tereza. Tive grata surpresa com tão belo texto pelo conteúdo, pois desconhecia a existência do Grupo e sua perspectiva. Fiquei encantada. Ato contínuo, enviei e-mail a Tereza e pedi-lhe para compartilhar com vocês. Para os que se consideram espiritualizados, católicos ou não, poderão sentir a beleza do texto e o propósito do Grupo. Para os que descreem, boa oportunidade de refletir e, para todos, certamente, um prazeroso momento de ótima leitura. RECOMENDADÍSSIMO! E ainda ganha uma excelente indicação de trilha sonora, ao final. Agradeço a Tereza por me permitir divulgá-lo. Creio que aqueles que lerem tornar-se-ão melhores no exercício de sua fé ou na ausência dela.
* eu o leio, na casa de mamãe, que mantém assinatura antiga e na Padaria, quase sempre por cortesia do balconista. E nas bancas de revistas, quase sempre sem comprá-lo, nas 3 situações.
O Caminho do Meio e a Beleza: um
novo jeito de ser Igreja
“A verdade anda de mãos
dadas com a beleza e o bem”
(Papa Francisco)
Esse detalhe consiste na existência
de um jardim no local onde Jesus foi crucificado. Aliás, ele não só foi
crucificado perto de um jardim, mas também enterrado nesse mesmo jardim (Jo 19,
41).
Afirmo isto, porque, para nós, do Grupo
Caminho do Meio, faz toda diferença refletir sobre o significado desse jardim,
no cenário da crucificação e ressurreição de Jesus.
Primeiro de tudo: quem somos? O que
é o Grupo Caminho do Meio?
É
uma pequena reunião de pessoas amigas, que têm em comum a fé católica, que se
encontram para conhecer, refletir, se encantar e vivenciar o Evangelho. Assim
como no conto “A terceira Margem do Rio” de Guimarães Rosa, nós acreditamos que
uma via para a prática do Evangelho pode ser o Caminho do Meio, ou seja,
juntamos as duas margens, os vários caminhos, as inúmeras linguagens, as
diversas interpretações. Misturamos todas as pedras e construímos a nossa
estrada que leva a Deus.
Se
para o poeta Carlos Drummond de Andrade ”no meio do caminho tinha uma pedra”,
para nós, no meio do caminho tem o Evangelho! Porém, o Evangelho não está só no
Caminho do Meio, ele tem como parceiros a música, o artesanato, a poesia, os
aromas, a cultura popular, a pintura, o desenho, a dança, os meios de
comunicação, a colagem, o cinema, a oração, o pão e o vinho. Enfim, todas as
linguagens, caminhos do nosso tempo, que enriqueçam a compreensão da Palavra de
Deus.
Enfim, o nosso olhar para as coisas
de Deus é impregnado de beleza. Por isso, quando vemos a cena da crucificação e
sepultamento de Jesus, o detalhe do jardim não passa despercebido.
O que significa, então, esse jardim
para nós? Significa que não podemos parar só na dor da cruz, na desolação que
ela implica e na morte que a simboliza. Existe um jardim no Gólgota (Lugar da
Caveira), onde o crucificaram. Portanto, há esperança, há vida e ressurreição.
E por que não beleza?
É um novo olhar para as Escrituras
Sagradas. Um olhar que não esquece os detalhes. Pelo contrário, busca-os como um
dos fios condutores da reflexão bíblica, pois, muitas vezes, é no detalhe que
está a beleza!
Para minha alegria, desculpem-me a
redundância, na sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (A Alegria do
Evangelho), o Papa Francisco chama atenção para o tema da beleza. Vejamos o que
ele diz: “É bom que toda a catequese preste uma atenção especial à “via da beleza”
(via pulchritudinis). Anunciar Cristo significa mostrar que crer n’Ele e
segui-Lo não é algo apenas verdadeiro e justo, mas também belo, capaz de
cumular a vida de um novo esplendor e de uma alegria profunda, mesmo no meio
das provações. Nesta perspectiva, todas as expressões de verdadeira beleza
podem ser reconhecidas como uma senda que ajuda a encontrar-se com o Senhor
Jesus. Não se trata de fomentar um relativismo estético, que pode obscurecer o
vínculo indivisível entre verdade, bondade e beleza, mas de recuperar a estima
da beleza para poder chegar ao coração do homem
e fazer resplandecer nela a verdade e a bondade do Ressuscitado.”
Portanto, o Grupo Caminho do Meio
segue a “via da beleza”, comunicando Jesus no meio urbano, de uma maneira nova,
com ambientação adequada, símbolos eloquentes e motivação atraente.
Concretamente, como isso ocorre? O
Caminho do Meio se encontra, mensalmente, para refletir sobre a Palavra de Deus.
Como os primeiros cristãos, o grupo se reúne em pequenas comunidades, nas casas
dos seus membros, onde se partilha a Palavra e o Pão. É no espaço das reuniões que se manifesta,
primordialmente, o jeito “caminho do meio” de evangelizar. Por meio de místicas
e dinâmicas, inspiradas no Evangelho, nós pintamos, desenhamos, rezamos, montamos
quebra-cabeças, usamos poesia e textos literários, moldamos com massas
coloridas, assistimos à cenas de filmes e soltamos balões. Tudo isso ao som de
MPB, world music ou cantos gregorianos. E no final de cada reunião, os
participantes recebem um “mimo”.
O mimo é um capítulo à parte, é a memória
da reunião, que os caminhantes (assim são chamados os participantes) recebem como
toque poético do Caminho do Meio. Pode ser um artesanato, um livro, cartões
postais, uma imagem de Santa Luzia ou Santo Antônio, uma concha de Santiago de
Compostela, um ticket para tomar um cappuccino com um amigo do grupo ou ainda
uma pequena cruz dentro de uma caixa de fósforo.
Enfim, o nosso objetivo é usar a
arte, na obra evangelizadora, para transmitir a fé e comunicar Jesus, deixando
de lado a segurança das margens para tornarmo-nos discípulos missionários na
terceira margem do rio.
Termino citando novamente a
Exortação Apostólica do Papa Francisco, A
Alegria do Evangelho: “É preciso ter a coragem de encontrar os novos sinais,
os novos símbolos, uma nova carne para a transmissão da Palavra, as diversas
formas de beleza que se manifestam em diferentes âmbitos culturais, incluindo
aquelas modalidades não convencionais de beleza.”
O Grupo Caminho do Meio tem seis
anos de existência.*
PS: Escrevi este texto ao som de
Bjork, Marlui Miranda e uma coletânea de músicas asiáticas. Trilha sonora perfeita
para o Caminho do Meio.
*Tereza Nascimento, jornalista e
fundadora do Grupo Caminho do Meio.