Um "cadinho" de mim

São Luís, Maranhão, Brazil
Rita Luna Moraes Assistente Social e Bacharel em Direito. Servidora pública federal aposentada.

terça-feira, 12 de junho de 2012

CARTA DE UM HOMOSSEXUAL À PRESIDENTA DILMA

Linkhttp://twextra.com/a4kl3z


ALEXANDRE VIDAL PORTO
O ASSUNTO É PARADA GAY
Dilma, precisamos de sua voz
Posicionar-se publicamente pela igualdade, como fizeram outros líderes, seria decisivo. Veja que muitos gays ainda têm de desfilar disfarçados
Senhora presidenta, Se a senhora ligou a TV ontem, viu a Parada Gay de São Paulo.
Pode parecer festa. Mas é passeata. Parecerá que estamos dançando, mas essa dança é só uma maneira diferente de marchar. É o modo que encontramos para reivindicar direitos que todos os outros brasileiros, que não nasceram homossexuais, já têm. É a forma de dizermos: somos tão humanos e tão brasileiros quanto vocês.
Somos milhões de homens e mulheres. Mesmo que não nos enxerguem, fazemos parte da realidade. Estamos em todas as cidades e em todas as profissões.
Neste domingo, a senhora nos viu marchando. Nos outros dias do ano, porém, é mais fácil nos encontrar sendo ridicularizados em programas de televisão, barrados nos bancos de sangue, impossibilitados de casarmos com quem amamos ou espancados nesta mesma avenida em que, ontem, pedimos que o Brasil nos respeite e nos trate como iguais.
Nossa natureza é usada como xingamento. Gente eleita para nos proteger nos desqualifica. Religiosos nos apresentam como inferiores. Sofremos violência gratuita. Uma vida de rejeição e ridicularização enfraquece a autoestima, presidenta.
Note que alguns de nós desfilamos disfarçados. É para não sermos reconhecidos e nos tornarmos objeto de mais discriminação ainda quando a parada acaba e voltamos para o nosso dia a dia.
Já restauramos a democracia. Por que, então, nossos direitos constitucionais continuam ignorados? Por que seguem atacando nossa dignidade? Por que nossa liberdade é constantemente reprimida?
Às vezes parece que, no Brasil, a democracia ainda não chegou para os homossexuais. Nossa cidadania permanece incompleta.
Como brasileiros, merecemos mais respeito e mais proteção legal. O discurso virulento contra nossa natureza não pode ser descaracterizado como liberdade de expressão. Ódio e intolerância não são opinião. São crimes.
Nossas famílias têm de ser reconhecidas e tratadas com igualdade, não como anomalia. Nenhuma família é melhor ou mais moral que as outras.
Sabemos que as coisas estão mudando. Mas mudam muito lentamente. Poderiam mudar mais rápido. A vida de quem sofre discriminação é agora. Se a igualdade demorar muito para chegar, a vida passa.
Precisamos que a reforma do Código Penal tipifique a homofobia como crime. Precisamos que se estabeleça o casamento civil igualitário. Precisamos que se eduque a população sobre a diversidade humana. São tarefas difíceis, presidenta. Para realizá-las, seu apoio é decisivo.
Muitos líderes mundiais já se posicionaram publicamente em favor dos direitos de igualdade. Em seus países, isso fez diferença.
Os brasileiros homossexuais e os que com eles se solidarizam ficariam orgulhosos se nossa presidenta também emprestasse sua força para defender essa parcela de nossa população que segue sendo injustiçada. Pedimos direitos iguais, presidenta. Nem mais, nem menos. Para consegui-los, precisamos de sua voz.

ALEXANDRE VIDAL PORTO, 47, mestre em direito por Harvard, é diplomata e escritor, autor de "Matias na Cidade" (Record)

TEDxUSP - Marcelo Tas - Da USP ao CQC

CARTA ABERTA DE COMUNIDADES IMPACTADAS PELA VALE E SUZANO


terça-feira, 12 de junho de 2012


CARTA ABERTA DE COMUNIDADES IMPACTADAS PELA VALE E SUZANO


  • Somos militantes dos movimentos sociais, mobilizados em defesa dos direitos humanos e do Meio Ambiente.
    Somos quilombolas, quebradeiras de coco da Estrada do Arroz, pescadores atingidos pela hidroelétrica de Estreito, trabalhadores e trabalhadoras sem terra e sem direitos. Somos comunidades impactadas pelos grandes projetos e sua violência socioambiental, que ainda os órgãos ambientais não conseguiram enfrentar com firmeza e eficácia.

    Denunciamos os grandes projetos econômicos instalados no estado do Maranhão, a exemplo da duplicação da Estrada de Ferro Carajás (EFC) e da expansão desenfreada do monocultivo de Eucalipto pela empresa Suzano. Esses projetos têm subvertido os ciclos vitais da natureza, privatizando e mercantilizando os bens naturais e minerais, provocando degradação social e ambiental com conseqüências gravíssimas para toda população.

    Vimos de Açailândia, Vila Nova dos Martírios, São Pedro d’Água Branca, Bom Jesus das Selvas, Buriticupu, Itapecuru, S. Rita, Miranda do Norte, São Luís.
    Vários de nós seguirão caminho até a Cúpula dos Povos, em ocasião da Conferência Internacional da ONU “Rio+20”, levando o grito e as reivindicações do Maranhão e reafirmando a luta dos povos por “justiça ambiental e social, contra a mercantilização da vida e em defesa dos Bens comuns”.
    Hoje estamos aqui, em Imperatriz, denunciando esses conflitos socioambientais, à espera de respostas por parte do Ministério Público Federal, do IBAMA e do INCRA.

    Estamos preocupados pela maneira como estão sendo licenciadas as obras de duplicação da EFC: empreendimento de grande envergadura, de altíssimo investimento (mais de 8 bilhões de reais) e com um enorme potencial de impacto sobre o meio ambiente e sobre mais de 100 povoados localizados às suas margens.
    Já nossas comunidades interpelaram oficialmente IBAMA e MPF sobre os conflitos existentes e as graves ameaças que elas sofrem, mas a resposta é insatisfatória. O processo de licenciamento está se desenvolvendo às escondidas, entre Vale e IBAMA, sem EIA-RIMA e sem audiências públicas normatizadas por resoluções do CONAMA.

    O monocultivo de eucalipto em nossas regiões expulsa os trabalhadores do campo, favorece ainda o trabalho escravo ou jornadas desumanas de trabalho, pago por produção.
    Em nossos assentamentos instalaram-se canteiros de obras da Vale, criando conflitos com o ritmo de vida cotidiano das comunidades, prometendo trabalho que se revelou instável e para poucos.
    A compra-venda de terras entre Vale e Suzano está expulsando da terra inteiras famílias e, nessa precariedade, as comunidades quebradeiras de coco ainda não conseguem garantir sua segurança alimentar.
    Nossas populações quilombolas foram desrespeitadas pela Vale e precisou uma Ação Civil Pública para que a empresa reconhecesse suas violações.
    Os povos indígenas, pescadores, ribeirinhos, assentados, e toda a população da região tocantina ainda sofrem os impactos da usina Hidrelétrica de Estreito.
    Levaremos à Cúpula dos Povos o nosso protesto. Queremos que os órgãos ambientais e as instituições de garantia dos direitos difusos assumam a voz dos atingidos e não cedam às pressões das empresas e do poder político, que prometem desenvolvimento e distribuem prejuízos.

    Reivindicamos:
    • Imediata Suspensão do processo de licenciamento ambiental da duplicação da Estrada de Ferro Carajás e a não concessão de nenhuma nova licença até que o processo enfim se regularize;
    • Divulgação do estudo de impacto e das medidas mitigadoras e compensatórias previstas, de maneira compreensível a todas as mais de 100 comunidades diretamente impactadas por esse grande empreendimento;
    • Realização de regulares audiências públicas nos municípios atingidos por esse empreendimento e o cancelamento das 04 “reuniões públicas” pelas quais Vale e IBAMA querem resolver superficialmente as dúvidas e insatisfações das mais de 100 comunidades diretamente impactadas;
    • Realização de consulta às comunidades tradicionais (indígenas e quilombolas) impactadas, a fim de averiguar sobre seu consentimento prévio, livre e informado a respeito das obras, seguindo os parâmetros da Convenção 169 da OIT, que o Estado brasileiro se obrigou a cumprir;
    • Intervenção do INCRA para monitorar e coibir a ação das empresas nos territórios de assentamento rural, como a invasão do eucalipto ou a instalação de canteiros de obras, entre outras formas de impacto.

    Imperatriz (MA), 14 de junho de 2012

    Convidamos para ato público quinta-feira, dia 14 de junho em Imperatriz.
    10 h: manifestação em frente ao IBAMA
    11 h: reunião pública com MPF, IBAMA e INCRA
    12 h: encerramento do ato na praça de Fátima

CONTEÚDO LIVRE: Contardo Calligaris - As coisas, os outros e os es...

CONTEÚDO LIVRE: Contardo Calligaris - As coisas, os outros e os es...: Nos entulhos, as vítimas procuram sua identidade, que ficou nas coisas e nos outros perdidos 1) Os amigos que encontro, nesta volta de v...

domingo, 10 de junho de 2012

Carta à amiga Franci


Caríssima Franci [1],

Meu profundo desejo de que esta mensagem encontre você e sua família com saúde, para que possam aproveitar o que a vida nos oferta de melhor.
Quando penso em escrever uma Carta a um querido amigo ou amiga, sempre lembro da música do Chico Buarque e Francis Hime "Meu Caro Amigo" [2]: pela representação histórica em que foi composta - época da ditadura militar, exílios, desaparecimentos e mortes de tantos que não podemos esquecer. (Já aproveito para dizer que nós, os que conhecemos parte dessa triste história, devemos nos manter atentos e mobilizados em face dos trabalhos da “Comissão da Verdade”, para que seja menos simbólica e traga à luz do dia o resgate de nossa memória, ainda que indigna, mas nossa.) Mas também porque é uma música “epistolar, um samba-choro de inflexão noelesca[3]. E adoro Cartas, Noel e Chico e fica “mais leve” a vida com música...
Voltando à inspiração musical, especialmente quando diz Uns dias chove, noutros dias bate sol/Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta/Muita mutreta pra levar a situação/Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça/E a gente vai tomando, que também, sem a cachaça/Ninguém segura esse rojão/Meu caro amigo eu não pretendo provocar/Nem atiçar suas saudades/Mas acontece que não posso me furtar/A lhe contar as novidades, sigo daqui, de nossa amada São Luís do Maranhão, a comentar as boas novas e outras nem tanto.
Ainda no tema daquela “verdade histórica” (que me é tão caro), assisti estarrecida à entrevista do ex-Governador de São Paulo, Paulo Egydio Martins[4], que declarou o que já sabíamos, mas que revelada por esta “autoridade”, causa maior indignação e instigação: o jornalista Vladimir Herzog foi assassinado e sua morte maquiada. A entrevista traz ainda outros detalhes desse período e acrescenta mais fatos à história que ainda pouco conhecemos, mas que vai sendo desvelada. Recentemente, notícias deram conta de que militantes contra a ditadura foram queimados em fornos de usinas de açúcar e Marcelo Rubens Paiva escreveu sobre o que fazer com a informação do endereço do algoz da tortura e morte de seu pai[5] e sua particular visão sobre a instalação da Comissão da Verdade.
Bem, vamos às notícias da terrinha querida: nem precisava falar sobre o que tem sido noticiado do nosso Estado em rede nacional, mas é imperioso! Estamos vergonhosamente na liderança negativa de conflitos agrários e trabalho escravo e problemas graves na saúde, educação e transporte públicos, para ficar no mais recente noticiário.
Há pouco tempo, assisti à recente entrevista do Senador e ex-Presidente da República José Sarney na TV Guará, disponível no canal de vídeos Youtube. Em certo momento, emociona-se ao lembrar com tristeza da veiculação de notícias ruins para o país sobre o nosso Estado. Mais recente ainda, li a entrevista do ex-deputado Freitas Diniz ao Jornal Vias de Fato[6], na qual analisa a história política de nosso Estado, nas últimas cinco décadas. Ao lado dos artigos do historiador Wagner Cabral, disponíveis no mesmo jornal, servem como contraponto ao que nos disse o Senador. Ainda vou ler a biografia dele: sou assim, busco conhecer o diverso, sem nenhum preconceito, mesmo não concordando com o (s) autor (es) ou o (s) texto (s). Para, além de conhecer, poder emitir meu pensamento crítico. (Haja tempo para tanta leitura e estudo...)
Pois é, minha amiga, o que já estava ruim, décadas atrás previsto com a implantação do Projeto “Grande Carajás”, caminha para o pioramento com a instalação de outros tantos “grandes” Projetos desenvolvimentistas, tanto na ilha como em diversos municípios.  Agravam-se os despejos forçados de comunidades, posseiros, quilombolas e indígenas, que vem sendo “expulsos” de suas terras e moradias. As lideranças mortas ou sob ameaça de.
Mais que triste que o Senador, eu, humilde cidadã ludovicense e maranhense, vejo-me envergonhada por sermos uma terra, tão rica e tão pobre, apresentando indicadores do século XIX e a cada dia com perspectivas de agudização de seus problemas estruturais. Não me deterei a estes, porque de todos nós conhecidos.
Na semana do Dia Mundial do Meio Ambiente e às vésperas da Rio+20 (Conferência da ONU), sucedendo à polêmica do Código Florestal, estive, por dever acadêmico, estudando a Lei de Crimes Ambientais e, no capítulo que trata da preservação do Patrimônio Cultural, sob a inspiração das matracas e dos pandeirões, refleti que “toada de boi pode ser crime ambiental”, tal a descaracterização das recentes letras, a exaltar os “padrinhos políticos” das brincadeiras ou tratar de temas que não a história de Catirina e Pai Francisco. Ora, se o “Bumba-meu-Boi” (e também o “Tambor de Crioula”) é “patrimônio imaterial” a sua não preservação cultural constitui “crime ambiental”. E olha que sou adepta de “licença poética” - o que não é o caso. (Pretendo aprofundar esta reflexão.) Fico também “vexada” quando encontro mais cerveja do que mingau de milho nos arraiais; ou mais churrasquinho que bolo de macaxeira. (E sabes bem que adoro uma cerveja...) Comentei nesta semana, que ninguém mais me ofereceu para comprar “votos de Rainha Caipira”. Que Santo Antônio, São João, São Pedro e São Marçal protejam-nos!
Há boas novas, como disse: nesta semana, foi inaugurado o Cine Teatro Municipal (no antigo prédio do Cine Roxy, lembras, não?). Restaurado e ocupado, aquele local poderá trazer de volta as pessoas para aquele pedaço de chão. Caminho muito pelo Centro da cidade e assisto à degradação de espaços que conheci vivos. Assim, celebro qualquer iniciativa de resgate. Neste novo espaço histórico-cultural inicia hoje, 10 de junho, a 35º edição do Festival Guarnicê de Cinema, com a veiculação gratuita de filmes e uma exposição fotográfica sobre São Luís. Haverá ainda uma justa homenagem aos cineastas maranhenses Murilo Santos e Euclides Moreira Neto, que tanto me influenciaram a gostar dos filmes locais. A grande dama-atriz Marília Pêra será a homenageada nacional.[7] Digno de destaque que haverá programação que incentiva estudantes da rede pública a assistirem os filmes. (Sempre acreditei que educação é muito mais do que frequentar aulas convencionais).
Pareço saudosista? Para os que não me conhecem bem, sou plenamente “conectada” a novas tecnologias e conhecimentos; contudo, julgo que a preservação da nossa história, em seus diferentes matizes, nos fazem avançar mais seguros em direção ao futuro.
Ainda teremos, nesta semana, a II edição do Festival Internacional Lume de Cinema[8], com  filmes que não são vistos nos Cine-Shoppings, no especial Cine Praia Grande. Ano passado, quando da I edição, vi filmes maravilhosos e inesquecíveis. Minha singela reverência ao cineasta maranhense Frederico Machado, pela incansável luta para a produção do Festival, com nenhum apoio público e pouquíssimo privado. Digo que terei 2 semanas de “overdose” de Cinema. (De novo, haja tempo...)
Impossível não mencionar o texto de meu amigo Zema Ribeiro sobre nossa "miséria cultural" oportuno nestes 400 anos -no link http://zemaribeiro.com/2012/06/09/nossa-miseria-cultural-ou-acorda-serpente/
Um olho no filme e outro na vida real: CPMI Cachoeira, Rio+20 (a Conferência oficial e a Cúpula dos Povos – que reunirá a sociedade civil organizada), greve das universidades, eleições municipais, o lixo que campeia por todo lado, o aumento de moradores de rua, a violência no campo e na cidade e ainda a crise na Síria. Penso que esta “agenda” já vai dar conta de meu tempo.
Minha querida amiga, vou ficando por aqui, na esperança de que as “boas novas” superem, da próxima vez, as más notícias.

Um axé especial a ti e lembranças à Aninha.

Sua "sempre" aluna e amiga,

Rita Moraes.


[1] Franci Cardoso foi minha professora na Graduação em Serviço Social/UFMA e, desde sempre, uma amiga querida, que estuda hoje no Rio de Janeiro e a quem abracei em agosto do ano passado e que encontro, vez por outra, no Facebook.
[2] Enquanto se lê, dá para ouvir e relembrar a música (ou conhecê-la, os que ainda não tiveram este prazer), bastando clicar no link: http://www.vagalume.com.br/chico-buarque/meu-caro-amigo.html
[3] Nas palavras do crítico musical Tárik de Souza. (contracapa da Coleção CD Chico 50 anos – O político. PolyGram – sem data de edição, talvez, por que eterno e nem lembro quando adquiri...)
[4] Penso ser um dever “histórico” que “compartilhemos” este depoimento, em memória de todos nós.
[5] Igualmente, um texto que fala e cala: http://blogs.estadao.com.br/marcelo-rubens-paiva/valeu/
Para quem ainda não leu, leia também os comentários. E ainda sua ideia sobre a instalação da Comissão da Verdade em http://blogs.estadao.com.br/marcelo-rubens-paiva/2-lados/ quando expõe a foto da faixa “aqui mora o torturador da Dilma – apto.23-A”.
[6] http://www.viasdefato.jor.br  Recomendo a leitura diária obrigatória.
[8] Aqui a Programação com Sinopse dos Filmes: http://www.lumefilmes.com.br/festival2012