A mobilização nacional, promovida pela novela “Insensato Coração”, da TV Globo, expressa, de modo inequívoco, o “instinto humano (?)” da vingança. Sem sobra de dúvidas, a maioria da população deseja, ardorosamente, que o personagem Léo, vivido muito bem pelo ator Gabriel Braga Nunes, seja maltratado e punido (para dizer o menos) pela Norma, atuação não menos brilhante da atriz Glória Pires.
Para “embalar” essa trama da “vingança coletiva”, uma das canções mais belas que conheço: “Senza Fine”, na bela voz de Ornella Vanoni (veja um vídeo postado neste blogue e aprecie, esquecendo-se que está servindo à vingança de Norma). Esta música também possui uma bela interpretação de nossa Zizi Possi.
Mas deixando de lado a beleza da canção e até mesmo a sua tradução (veja também abaixo) “adequada” ao roteiro da “paixão X vingança” da Norma, perguntemo-nos: o crescente desejo de “justiça” com as próprias mãos – a vingança, por exemplo - não decorre em muito devido ao sentimento de descrença, igualmente crescente, na “justiça” realizada (?) pelo Poder Judiciário de nosso país?
A incompreensão e indignação com os resultados judiciais diante das inúmeras situações de violências e violação de direitos faz com que se busque o torto caminho da vingança. Crescem as notícias de linchamentos reais, especialmente, nos pequenos e médios municípios. Sem falar nos linchamentos via mídia, que tratam os “meliantes”, “marginais”, “bandidos” e criminosos como as pessoas (sim, não nos esqueçamos, são pessoas) irremediavelmente condenadas ao pior dos castigos. Idade Média ou Pós-Modernidade? Bárbárie ou Utopia? Não vou teorizar, nesta conversa. Apenas referências que me ocorrem.
É preciso pensar seriamente: quando, em rede nacional, milhões de “telespectadores” são estimulados à vingança, o que restará da convivência humana? Esta atitude também não imobiliza a população para lutar por uma “justiça mais justa”, no conceito mais simples que isto encerra?
A minha mãe perguntava-me, ontem, num domingo (dia de descanso e graça), se eu acreditava que o Léo ainda fosse “se safar e se dar bem”?! Ainda há nela a esperança de que ele seja responsabilizado por seus atos e que não se repitam os maus exemplos reais de tanta impunidade. Responsabilização e não vingança, é o que se deve esperar, penso.
É isso: que haja “sensatez” “sem fim” aos autores da trama. E mais ainda aos responsáveis pela nossa “justiça entre os homens”, ao mínimo, aquela que está nas leis.
(Uma tradução da letra de “Senza Fine”)
Sem Fim
Você arrasta a nossa vida
Sem um instante de pausa
Para sonhar
Para poder lembrar
Tudo aquilo que vivemos
Sem fim, você é um instante sem fim
Sem ontem, sem amanhã
Tudo é agora, em tuas mãos
Mãos grandes, mãos sem fim
Não me importa a lua
Não me importam as estrelas
Você para mim é a lua, e as estrelas
Você para mim é o sol e o céu
Você para mim é tudo
Tudo o que eu quero ter
Sem fim...
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