Ainda bem que está passando esse aniversário
de 400 anos de São Luís. Já não estava mais suportando tanta utilização
indevida desta data. Governos, comércio, candidatos, enfim, o aniversário
prestou-se a muitos objetivos. E a pergunta que resta da festa (com perdão do
trocadilho): e agora, os próximos dias como serão?
A mesma pergunta que me fiz ao
completar meus cinquenta anos, neste 2012. Como respondi a mim mesma: quero
dias seguintes à festa com dignidade e nada mais.
E o que isto pode representar?
São tantas as promessas à cidade,
que até me assusto: nem vão caber nos próximos 800 anos.
A cidade pede o simples:
dignidade para sua gente! Trabalho, moradia, educação e saúde serão suficientes
para que o mais exista. Ah, "a gente
não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte", completaria
ao som da música dos Titãs.
"Shows para entrar para a história" ou "Outra festa que só veremos daqui a 400 anos"
desrespeitam a nossa história, passada e presente e comprometem nosso futuro: a
cidade quer festejar a vida de sua gente, que anda hoje, sem muitas razões para
cortar o bolo.
Talvez ela precise mais que
trilhos e automóveis; mais que asfalto e vias expressas; mais que festas e
fantasias. Precise de respeito a sua gente: aos ilustres que fizeram nosso
passado, glorioso ou nem tanto; aos anônimos que fazem o presente, com as belezas
que não estão nos catálogos e àqueles que ainda nem nasceram, e que no futuro,
ainda não sabemos se viverão em uma ilha bela ou magnética.
Cresci na Rua dos Afogados, no
centro da cidade, e a casa em que morei até os 7 anos, enchia de água quando
chovia. Mesmo não tendo morrido "afogada", até hoje, no canto daquela
morada, ainda jorram águas e lá se vão tantos anos. Vi o bairro da COHAB
expandir-se e juntar-se com o COHATRAC em um dos aglomerados urbanos mais
repletos de lixo. Até hoje, ao passar por suas ruas, me incomoda a sujeira daquelas
travessias que cortei por anos a fio de bicicleta.
Longe de ser saudosista ou
desejar a volta ao passado: já aprendi que o passado não volta. Mas se a
leitura que fazemos de nossa história servir para construirmos o presente e
deixar chegar o futuro no seu tempo, com certeza muito longe de shows e festas,
o que precisamos é de vida e vida em abundância.
O que de melhor temos para
festejar é a grandeza da gente de São Luís: que vai de ônibus lotado, mas ouve
e dança música no celular; que encontra as feiras sujas, mas não abre mão da
comida direta da fonte; que não tem emprego, mas não falta a um bumba-meu-boi;
que nem tem educação, mas sabe cantar as pedras do reggae; que não cansa de
lutar por dias melhores para seus filhos.
Que os dias seguintes aos 400
anos sejam de dignidade pra nossa gente! "Gente é pra brilhar, não pra morrer de fome", nos lembra Caetano.
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