Um "cadinho" de mim

São Luís, Maranhão, Brazil
Rita Luna Moraes Assistente Social e Bacharel em Direito. Servidora pública federal aposentada.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Nem pretendo que nossa cidade tenha mais 400 anos: basta que tenha um dia de dignidade!


Ainda bem que está passando esse aniversário de 400 anos de São Luís. Já não estava mais suportando tanta utilização indevida desta data. Governos, comércio, candidatos, enfim, o aniversário prestou-se a muitos objetivos. E a pergunta que resta da festa (com perdão do trocadilho): e agora, os próximos dias como serão?
A mesma pergunta que me fiz ao completar meus cinquenta anos, neste 2012. Como respondi a mim mesma: quero dias seguintes à festa com dignidade e nada mais.
E o que isto pode representar?
São tantas as promessas à cidade, que até me assusto: nem vão caber nos próximos 800 anos.
A cidade pede o simples: dignidade para sua gente! Trabalho, moradia, educação e saúde serão suficientes para que o mais exista. Ah, "a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte", completaria ao som da música dos Titãs.
"Shows para entrar para a história" ou "Outra festa que só veremos daqui a 400 anos" desrespeitam a nossa história, passada e presente e comprometem nosso futuro: a cidade quer festejar a vida de sua gente, que anda hoje, sem muitas razões para cortar o bolo.
Talvez ela precise mais que trilhos e automóveis; mais que asfalto e vias expressas; mais que festas e fantasias. Precise de respeito a sua gente: aos ilustres que fizeram nosso passado, glorioso ou nem tanto; aos anônimos que fazem o presente, com as belezas que não estão nos catálogos e àqueles que ainda nem nasceram, e que no futuro, ainda não sabemos se viverão em uma ilha bela ou magnética.
Cresci na Rua dos Afogados, no centro da cidade, e a casa em que morei até os 7 anos, enchia de água quando chovia. Mesmo não tendo morrido "afogada", até hoje, no canto daquela morada, ainda jorram águas e lá se vão tantos anos. Vi o bairro da COHAB expandir-se e juntar-se com o COHATRAC em um dos aglomerados urbanos mais repletos de lixo. Até hoje, ao passar por suas ruas, me incomoda a sujeira daquelas travessias que cortei por anos a fio de bicicleta.
Longe de ser saudosista ou desejar a volta ao passado: já aprendi que o passado não volta. Mas se a leitura que fazemos de nossa história servir para construirmos o presente e deixar chegar o futuro no seu tempo, com certeza muito longe de shows e festas, o que precisamos é de vida e vida em abundância.
O que de melhor temos para festejar é a grandeza da gente de São Luís: que vai de ônibus lotado, mas ouve e dança música no celular; que encontra as feiras sujas, mas não abre mão da comida direta da fonte; que não tem emprego, mas não falta a um bumba-meu-boi; que nem tem educação, mas sabe cantar as pedras do reggae; que não cansa de lutar por dias melhores para seus filhos.
Que os dias seguintes aos 400 anos sejam de dignidade pra nossa gente! "Gente é pra brilhar, não pra morrer de fome", nos lembra Caetano.

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